Os promotores do Caminho da Geira Romana e dos Arrieiros estão confiantes que não haverá “marcha atrás” no projeto, que gostariam de ver reconhecido antes do próximo Ano Santo.
Noticia de Diario do Minho (www.diariodominho.pt)
O projeto de homologação do Caminho da Geira Romana e dos Arrieiros, que liga Braga a Santiago de Compostela, entrou numa nova fase, ao ser percorrido pelos primeiros peregrinos em meados de maio. As associações promotoras estão convencidas que atingiu um ponto em que não haverá “marcha atrás”.
Varias associaçãos coordenam a investigação histórica, patrimonial, do traçado e sobre outros recursos necessários à validação do caminho; um trabalho iniciado em 2009 que pretendem ver reconhecido pela Junta e a Confraria Jacobeia até ao Ano Santo de 2021.
«Consideramos que o projeto já não pode voltar atrás. Cada vez que um peregrino percorre este caminho transmite uma mensagem e deixa o testemunho da sua passagem, e isso é irreversível», diz o presidente da ACJMR, destacando tratar-se de um itinerário de «história, património, águas termais e natureza deslumbrante, com descobertas a cada quilómetro, por exemplo nos parques naturais ou nos vinhedos do Ribeiro».
«É um caminho que convida a continuar, sobretudo numa altura em que outros itinerários, como o Francês, começam a ficar massificados. Nós temos um dos caminhos históricos mais antigos e esperamos que seja reconhecido e homologado até 2021».
«Nesta altura estamos concentrados em recolher e compilar documentos históricos. Encontrámos muito mais do que estávamos à espera, muito relevantes, como de oito escritores da Galiza (todos homenageados no Dia das Letras Galegas) que falam da rota de peregrinação dos portugueses que passava por Codeseda», adianta Carlos da Barreira, presidente da ACV.
«Nós não iremos voltar atrás, porque os documentos históricos estão aí. Esperamos que seja possível o seu reconhecimento como caminho oficial e estamos apostados em que venham peregrinos.
Entretanto, queremos concentrar-nos na recolha e análise dos dados históricos e que o traçado seja aquele que eles revelarem», destaca Carlos da Barreira.
Os quatro primeiros peregrinos a completar o novo caminho de Santiago a propor para homologação às entidades oficiais jacobeias espanholas, são naturais do distrito de Leiria. O casal Maria João Batista e João Filipe (engenheiros agrícola e informático) e o seu amigo Luís Sobreiro (viticultor), naturais das Caldas da Rainha, constituem um grupo de três caldenses que partiu dia 6 de maio e chegou a Santiago de Compostela no dia 17 seguinte. O quarto é o jornalista Carlos Ferreira, residente em Leiria, o primeiro a cumprir o percurso sozinho, entre 14 e 22 de maio.
O trio de peregrinos das Caldas da Rainha destacou que, ao contrário do que acontece no caminho de Santiago a partir do Porto (que percorreu no ano passado), esta rota não tem peregrinos e há «paz», «tranquilidade » e «muita hospitalidade » dos habitantes. Maria João Batista, João Filipe e
Luís Sobreiro viveram a aventura de serem os primeiros palmilhar o futuro 10.º caminho oficial de Santiago de Compostela, a cumprirem-se as expetativas das associações.
Jornalista fez o caminho sozinho
«É um caminho com uma paisagem muito bonita, mas é difícil de fazer porque tem troços grandes entre os locais com pensões para dormir, porque não há albergues e ainda falta marcálo com as setas amarelas», adiantou Carlos
Ferreira, que fez os 261 quilómetros do percurso sozinho, em nove dias.
«Esta é uma boa alternativa aos caminhos que ficarem sobrelotados de caminhantes. Pode ser importante também do ponto de vista cultural e do património, e seria interessante criar pequenos negócios porque contribuiriam para que tivesse mais alguma vida», adiantou o jornalista.
O objetivo do peregrino, que já percorreu seis caminhos de Santiago, era «conhecer um caminho mais original, mais natural, sem muita gente».

Carlos Ferreira na Pontevea
No final, confirmou as suas expetativas:
«Além do mais, nas etapas finais, em Berán, Codeseda, Souto de Vea e Pontevea, tive oportunidade de experimentar as termas, hotéis rurais espetaculares e a boa gastronomia local. É que peregrinar é alimentar o espírito, mas o corpo também não perdoa e se o descuramos não cumprimos o objetivo», concluiu, a brincar, o jornalista.
Traçado ainda em estudo
O traçado proposto pela ACJMR e ACV, que ainda poderá sofrer alterações, conforme os dados apurados nos estudos em curso, leva os peregrinos a passar por Braga e Santa Cruz, pela Geira Romana, Vía Nova XVIII, Terras de Bouro, Campo do Gerês, Portela do Homem, Compostela, Lóbios, Entrimo, Feira Vella, Castro Laboreiro, Portelinha, Alcobaça, Azoreira, Padrenda, Cortegada, Arnoia, Ribadavia, Berán, Beade, Pazos de Arenteiro, Distriz, Feáns, Beariz, Boborás, Brués, Soutelo de Montes, Vilapouca, Cachafeiro, Ponte Gomaíl (Gaxín), A Mámoa, A Portela,
Codeseda, Pontevea e, finalmente, Santiago de Compostela.